segunda-feira, janeiro 29, 2007

Inverno

As ruas estavam escuras, lembrando o dia triste que se aproximava: frio, molhado e vazio.
Caminhava talvez um pouco apática a tudo o que se passava e apenas fixava o correr dos fios de água que se formavam na estrada, sem destino mas bem apressados.
O Inverno nem é assim tão mau. A chuva parece limpar o espírito, o vento parece levar as mágoas e ficamos só nós, aqui, despidos de emoções e sentimentos a ver a água correr.
De repente, as pessoas começaram a correr, mas eu, desinteressada do mundo, continuei as minhas divagações. Mas de repente surgiram gritos e eu acordo para a realidade. A terra tremia e rachava, abrindo um grande buraco que aumentava e levava toda a água que corria.
Permaneci imóvel. Assisto ao fenómeno da natureza, como se o estivesse a ver em casa. pela televisão. O vento e a chuva aumentavam à mesma medida que esse buraco negro que comia tudo À sua volta. E eu sentia uma libertação, ao mesmo tempo que sentia as mágoas e o espírito a esvaírem-se.
Fico ali, frágil e exposta, esperando que algo aconteça, esperando a morte, talvez.
Sinto-me ser engolida pelo buraco, juntamente com as minhas frustrações, os meus sonhos, as minhas expectativas, o meu futuro.
Deixei que tudo acabasse.


E tudo acabou ali.

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